Doutorado: fazer ou não fazer?

Acho que todos sabem que estou fazendo Doutorado em Informática na Universidade Complutense de Madrid (UCM) desde 2005, ou seja, em mais um ano termino essa “mer..”, se Deus quiser. Sendo sincero, não é nada fácil fazer um doutorado, ainda mais se comparamos com o mestrado. O mestrado foi tranquilo, fiz em 2 anos e meio, publiquei 3 artigos em congressos internacionais, desenvolvi um protocolo, etc.. e ganhava a “mega” bolsa da Capes em 2003 que era R$724,00 se não me engano. Hoje esse valor subiu, já deve estar em mais de R$800 🙂 De todas formas, fica meu agradecimento a Capes e ao CNPQ por incentivar a pesquisa no nosso país.

Voltando ao doutorado. Se estivesse terminando o mestrado hoje, certamente pensaria duas vezes antes de fazer o doutorado, por várias razões:

– 4 anos estudando é muuuuuito tempo
– normalmente quem faz doutorado, já tem pelo menos uma esposa e talvez até filhos. Viver de bolsa de estudos, não dá, mesmo que a bolsa seja em euros 🙂
– Ouvir e ver seus amigos falar que já estão ganhando dinheiro, que trabalham, que tem vida e você na mesma, estudando e tudo parece que não tem fim, que não chega a lugar nenhum não é nada legal.
– E o pior de tudo é quando te fazem a seguinte pergunta: “Por que você faz doutorado se não gosta de dar aula?” Ai o bicho pega.

Eu confesso que não gosto de dar aula. Posso fazer apresentações, apresentar em congressos, mas dar aula não é minha paixão. Então porque (com acento, sem acento, junto separado? 😦 ) faço doutorado? Só fui descobrir isso a mais ou menos um ano atrás. Descobri que nem todo doutor precisa dar aula.

Infelizmente no Brasil, ainda temos esse conceito de que quem faz doutorado, vai dar aula na universidade e pronto. Não é assim. Fui descobrir isso aqui na Espanha. Não sei realmente qual a porcentagem, mas muitos doutores vão para o mercado trabalhar em empresas I+D (Investigación y Desarrollo). Para citar um exemplo, temos a Telefonica I+D, onde mais de 40% dos empregados tem doutorado. Praticamente todas as empresas de tecnologia aqui na Europa têm centros de I+D ou R&D (Research and Development).

Recentemente tive uma conversa com um chefe de um dos grupos de pesquisa da TI+D. Ele me disse que trabalhar em uma empresa de pesquisa tem dois fatores importantes:

1 – Você não precisa dar aula. Sua tarefa é investigar e pesquisar sobre novas tecnologias e futuras aplicações para os usuários.

2 – O salário pago em uma empresa normalmente é duas ou três vezes maior que o salário de uma universidade.

Para quem gosta de pesquisar / investigar, o doutorado é de suma importância. Para quem não gosta de dar aula mas gosta de pesquisar sobre novas tecnologias, aconselho e muito a fazer o doutorado. Outro fruto do doutorado é que em vários concursos, seu salário é 100% maior do que de qualquer outro funcionário público que tenha somente a graduação. Ou seja, em 4 anos você recupera o “dinheiro perdido”. E depois é só alegria.

Pense bem antes de entrar em um doutorado, porque são 4 anos e tudo na vida passa muito rápido, menos um doutorado.

8 Respostas

  1. oi. Acabei de postar seu comentário no meu blog.
    dá uma olhada lá. sou doutoranda em sociologia (meio ambiente e sociedade de consumidores é o tema da tese).
    boa sorte.

  2. é por por causa de todo este sofrimento que desanima o cara muitas vezes. o problema é sempre o dinheiro, por isso nada me faz mudar d idéia que quem estuda e se dedica tanto é por amor ao que faz e que merece realmente ganhar o q ganha (infelizmente a verdade eh q geralmente eh muito pouco).

    boa sorte vc merece

  3. Olá, amei ler seu post, eu terminei a graduação ano passado e agora estou me preparando para entrar no Mestrado e Doutorado, então ja estou lendo varias coisas respeito. Graduei-me em Design De Produto pela PUCRIO, mas minha area sempre foi vestuario em que trabalho a 15 anos. Amo pesquisar como graduanda conclui 3 anos como pesquisadora PIBIC, assim como vc acho q pesquisa nao se aplica apenas para quem quer dar aula mas sim desenvolver linhas investigativa e observatoria também. Para Mestardo pretendo escrever sobre roupas religiosas, quero ressaltar aspectos, simbolicos, antropologicos e Subejtivos. Sei que tudo dará certo! Para quem quiser falar mais sobre o assunto: riqueza24@hotmail.com

  4. […] do doutorado? Publicado em 22 setembro, 2010 por brasilsemfio A um tempo atrás escrevi aqui no blog, que uma pessoa deve pensar muito bem antes de começar um doutorado. Pois aqui estou na minha fase […]

  5. Estou pra começar o meu. Sei que o post é antigo, gostaria de saber se você já terminou e o que anda fazendo…

    Muito prazer!

  6. Normalmente, brasileiro tem uma visão muito limitada das coisas, Não generalizo, entretanto, porque sou brasileira e milhares são otimistas e lutadores. Não confundir uma experiência com sua experiência, faz parte também. Tudo tem os “positivos” e “negativos”. Pensar que 4 anos passam rápido para muita coisa e que o doutorado não, isso é um absurdo e sem fundamento. Não é visão de quem entra para um doutorado. Além de “gostar” ou “não gostar”, é fulcral o PLANEJAR. As coisas ficam mais fáceis e a visão mais direcionada. Também acredito que feilz de quem ainda consegue uma Bolsa de estudos, pois tantos são os brasileiros que nem passam perto desta chance e arcam do próprio bolso às despesas com os estudos…planejar é saber a projeção futura do curso escolhido, das condições do ensino oferecidas, os gastos gerais, o tempo de dedicação e se pensar no retorno, certamente, até um “cursinho para concurso público”, hoje em dia, requer racionalidade e organização, que também condiciona dedicação, disciplina e muita força de vontade, sem nem tão pouco saber se vai passar no tempo que almeja. Deve-se pensar que os 4 anos de um doutorado também lhe aplica uma experiência única entre investigadores e tudo que o rodeia. Um doutorado tanto pode servir para lecionar, quando para uma formação avançada para qualificação profissional. Para se ter uma idéia, investi tempo e dinheiro nim mestrado na Universidade de Coimbra. Realmente há limitações e sobrecarga sim, mas há de ter em mente que o esforço de hoje é o “fruto” de amanhã (demagogia e filosofia a parte). Ninguém entra num doutorado achando que vai ser fácil. Não mesmo…pense bem no que quer, para que quer e para quem quer, já é um bom começo….e busque sempre apoio nas pessoas que fortalecem suas projeções! Seja como for, uma oportunidade de doutorado é para poucas pessoas, porque o nosso próprio Brasil já limita espaço na rede de ensino pública…tire por base a própria UnB (Universidade de Brasília) que oferece apenas 3 (três) vagas (Doutorado em Ciências Políticas)…a Universidade do Rio de Janeiro que tem uma burocracia para entrar sem fim….a USP, nem se fala…enfim….se não é tão fácil entrar, que dirá para levar à frente…passe então 4 anos entrando em bares, boates e churrascos…veja o que irá colher depois, isso sim é um tempo que voa! Mas você ao realizar um doutorado pode também pode se organizar para as confraternizações, descanso e convívios….sei que é importantíssimo ser REALISTA, acontece que vale a pena certos sacrfícios!

  7. Eu li todos os posts,conclui que o desânimo do ser humano é realmente algo que afeta o nosso “pensar”.Bom,eu tenho 16 anos,eu me dedico com a área de T.I,eu sei oque pretendo, eu coloquei em minha mente oque pretendo e oque eu quero ser,por mais que as dificuldades me alcance,mas desistir no meio do caminho é algo que não tem volta.Pois quero me formar em Ciências da Computação.Pretendo fazer a graduação,pós,mestrado e doutorado.Sim eu digo,que não irá de ser fácil,sim eu sei que não.Mas desistir eu não irei,por que é bem simples ser persistente.

  8. 😀

Deixar mensagem para Diego Cancelar resposta